quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Mais uma página para Gadú

As coisas aconteceram rápido para Maria Gadú. Em 2008, na flor de seus 22 anos, não era mais que uma ilustre desconhecida tentando a sorte nos barzinhos da Tijuca e da zona sul carioca. Por sorte, seria vista por alguns poderosos do meio artístico - Jayme Monjardim, entre eles. Ao ouvi-la numa versão de "Ne Me Quitte Pas" (Jacques Brel), o diretor global prontificou-se em convocar a moça para a trilha da superprodução "Maysa". De quebra, Gadú ganharia ainda uma ponta como atriz na minissérie. Estava carimbado seu passaporte para o "hype", portanto.

Lançado pouco depois, o álbum de estreia "Maria Gadú" (2009) emplacou um tema de novela ("Shimbalaiê") e vendeu perto de 110 mil cópias - um êxito e tanto em tempos de crise fonográfica. A cantora, então, já era uma celebridade quando lhe veio o bombástico convite do canal Multishow: gravar um CD/DVD ao vivo ao lado de ninguém menos que Caetano Veloso. Foi uma precoce coroação, vale considerar. Dividir uma capa de disco com Caetano pode não significar necessariamente sua consagração, mas lhe garante uma vaga permanente nos anais da MPB.

Em seu segundo trabalho de estúdio, Maria Gadú chega cheia de moral, quando, na verdade, ainda deveria ter muito o que provar - e "Mais Uma Página" não prova muita coisa. Entre temas autorais e releituras, a paulista (carioca radicada) entrega pouco além do previsível. A banda é a mesma do primeiro disco, tal como o produtor (Rodrigo Vidal).

Trazendo os versos que batizam o disco, a abertura "No Pé do Vento" antecipa o melhor. O arranjo é híbrido; embaralha variados elementos da música latina sob uma elegante moldura de sopros. Encorpada por teclados "vintage", "Anjo de Guarda Noturno" mantém a boa impressão até revelar uma melodia que bem caberia na voz da Ana Carolina - referência que, dependendo do ponto de vista de cada um, pode soar mais que pejorativa. "Taregué" nada tem de errado, exceto pelo pretenso rebuscamento da letra: "Taregué foi pro mundo com Zaino e pé/ Querendo encontrar, colheu/ E girando no sonho se enlaçou/ Espasmos de ar e Zeus, véus de amores..."

"Estranho Natural" é uma honesta homenagem a Caetano, também lembrado na releitura de "Oração ao Tempo", outro dos momentos mais inspirados de "Mais Uma Página". Cantada em inglês, "Like a Rose" mostra duas coisas: primeiro, que a pronúncia de Gadú é perfeita; segundo, que suas referências gringas não são as melhores. Certos maneirismos da faixa aproximam-se do mais enlatado "adult pop" americano.

Muito jovem, Maria Gadú tem um longo caminho pela frente. Cabe a ela decidir-se entre a cômoda aceitação de mercado (temporária) e o ímpeto de superação criativa que é a marca dos melhores artistas.

Participam de "Mais Uma Página" o fadista português Marco Rodrigues ("A Valsa") e Lenine ("Quem?").

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